sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O vaso e a utopia


O jovem monge anda 70 quilômetros para ter com um mestre cuja fama já ultrapassou há muito as muralhas da cidade.

Exausto e os pés feridos pelo íngreme caminho que leva à árvore sob a qual o monge vive e medita no alto de uma montanha, o noviço, ao deparar com a magérrima figura, não perde tempo. Vai logo perguntando:
– Mestre, andei 70 quilômetros até aqui, pois fui informado de que és o único monge, em todo o Tibet, que sabe o que é o Zen.

Levantando-se com dificuldade, o velho monge apanha ao seu lado um vaso onde guarda a água da chuva. Ergue-o o mais alto que pode e deixa que caia ao chão. Estrépito, a argila a estilhaçar-se, a água entornada à terra.
– Então isto é o Zen, mestre?

E o mestre que até então não dissera uma só palavra, responde, quase solene:
– Não, meu filho. Isto não é o Zen.

Nenhum comentário: