No meio do mato a flor branca seu nome desconhecido
Haicai de Shiki (1869/1902).
Tradução de Maurício de Arruda Mendonça.
O poeta cubano José Kozer
LA CUEVA DE ALADINO
No cuento nada ni cuento para nada: veinticuatro horas después di otra vuelta alrededor de una forma ovoide, madre original: me entretuve viendo acabarse el ser (individuado). Cachumbambé (otrora). Mecedora (allá). Temprano, la playa (era) a la tarde la terraza. Y ya me cayó encima anoche la noche (ovoide). Aplastante. Cefalalgia. El sistema nervioso hecho un pingajo. Inapetencia. Insomnio. Nunca imaginé esto iba a ser así de divertido. Y ando implorando no quede rastro de las vueltas dadas día a día, todas se semejan (en la madre ovoide) a lo ovoide de las vueltas, nunca (en el fondo) salí (del fondo). Variaban los libros, yo no; seguía en pie rigiendo el desconocimiento: la propia fruición de la lectura acabó por convertirse en tara propia, inercia de la efigie tocada de orín, violada ahí dentro por la carcoma. A pedazos me estoy yendo al traste. En hora roma me atasco. Lechuza que no ulula. Los indicios son claros: comienza ya el final. Un determinismo ingente quién lo diría rige el Universo. Mi padre comió chicharrones, toneladas de carne de vaca, y a mí el colesterol me mata: la clave en blanco es la Muerte. Bravo. La brava. Vaca roja del israelí en el desierto. Ya que esto se acaba, raja, me voy a largar despotricando, cantar el manisero cagándome en mi estampa. Hiela afuera, nada riela: la lechuza sucumbe en vastedad a su propio enmudecimiento. No salir de la cueva (jamás) de la espesura. La lechuza enzarzada en su matorral. El ojo invidente en una recámara egipcia donde duerme ya en mi nombre hace eones el Faraón. Alma dormida, recuerde: atónito, miro, ay no, y cierro a cal y canto los ojos, me obligo a volver de lleno, entre cimeras, paramentos, los infantes de Aragón, al centro hueco, azul incombustible, del sueño. Llevo un rato pensando en los últimos años del pintor William Turner: fue un sabio natural, a rabiar. Haré y haré, hari hari, poemas hasta el final. Turner en Londres. Margate. Me quedo en Hallandale. Da igual. Aguantar hasta reventar. Y nada de visitas. Nos aguan la fiesta, desordenándonos el día: y el presupuesto. Dando sablazos. Mundo indigesto. No lo trago. Un mundo metiendo baza donde no lo llaman. Habrá un solo entierro al que llevaré mi propia vela. Juan Lanas, sin tierra: señor feudal de un erial donde pasto (seré) de las llamas (pagué todas las cuotas de mi incineración). Bailoteo. Gesticulo. Canturreo. Vuelta más, vuelta menos, en la ovoide. Proa al fuego, dos lloronas (no muy bien remuneradas): y una madre intercesora revolviendo las brasas.
José Kozer
Minha mãe, que era uma cozinheira de quatrocentos talheres, insuperável na igualmente insuperável culinária cabocla, costumava decretar, definitiva, que jamais honraria a cozinha quem não soubesse fazer, com talento, um arroz branco.
Desnecessário acrescentar o sublime arroz de D. Cida --- clássico, sem ademane, a nua simplicidade de um haicai. De se comer puro, só ele, feito fosse o prato principal.
Arroz incrementado, segundo ela, era tudo, menos arroz. Ou então, ironizava, abobado risoto colorido com vergonha de ser arroz... Xiita, a minha saudosa velha, nas coisas e loisas da cozinha. Frango, só o caipira; milho-verde, só o colhido no quintal, ou vindo da roça.
Minha governanta, a germana Jesse Brek, que, face ao tema, se não aparecer aqui, é capaz de entrar em greve, anda a concorrer com Matisse na disposição da mesa cá no Palacete do Tico-Tico. A cada refeição, um arranjo floral. Esses tempos, creiam, conseguiu montar um sol modernista, com pétalas de cebola e compridas tiras de cenoura. No centro, o redondo recorte de uma fatia de berinjela.
Se minha mãe era xiita no conteúdo, Frau Brek é uma fundamentalista do visual culinário. Como os japoneses, acha que a gente come primeiro, e antes de tudo, com os olhos. Boca, paladar, e até dentes, são importantes, mas vêm depois, se é que interessam vir. O que importa é a beleza inútil da poesia.
Por falar nisso, dizem, por aí, que nosso Dante Mendonça é um menestrel do forno e do fogão. Ainda não me foi dado provar suas iguarias. Mas sei que há um frango que é dele a melhor estrofe. Se é que não trouxe da Itália, onde passou as férias, e nos deixou em enorme vacância, inédito pitéu, prestes a ser anunciado...
Eu, de meu lado, quando budista, com o propósito de seguir o preceito de que todo homem deve entrar, ao menos uma vez por semana, na cozinha, tentei alguns pratos. Sou bom de frango-xadrez e não me saio de todo mal em algumas carnes ao shoyo. Aprendi que está no tempo exato de cozimento o segredo da comida chinesa, que tem de passar pelo estômago com a leveza de uma garça de Kobaiashi Issa.
Perdi o budismo e a paciência, mas não perdi o gosto por esta culinária que, embora os preços abusivos, ainda a freqüento, com a parcimônia que me permitem a disponibilidade e o bolso; mais o bolso que a disponibilidade. E ando com saudade do porco agridoce do adorável Kazuo Hidecki.
Em matéria de comida, saudade tenho sempre, e de muita gente --- do Jaime Lechinski e seus macarrões à bolonhesa; dos enfeitiçados rosbifes do saudoso Gilhobel de Camargo, mestre dos mestres; das irrepetíveis sopas-de-cebola do Jamil Snege, que chegou a ganhar as páginas da revista Claudia; das peixadas do Mazzinha; do gulache do Gilberto Rosenmann; do steak au poivre da Gleuza Salomon.
Agora, saudade, mas saudade imperecível, leitor, esta é do arroz de minha mãe.
Crônica de Wilson Bueno para O Estado do Paraná --- 6 de abril de 2008.