sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Guepardos


Perdidos do bando, feito uma sina, transpusemos já não sei quantas savanas. Os dois, só nós dois. Magros e de pintalgadas manchas sobre o pêlo rude, à sagacidade do vento, guepardos, ondulamos - vôo? - sob o céu. Só não sei, talvez em razão da pressa, quem, de nós dois, o primeiro mortal. Severo equívoco imaginar que desapareças de mim; que antes de mim findes - impunemente. Antes de mim? Como? Num balé de ágeis impulsos somos só uma felina espécie de caça. Aves?
Vejo a morte amadurecer em vossos olhos quando percebo que sobre eles passa uma sombra (nuvem da tarde?), rápida, quase invisível. Atravessa-te a íris-de-mel, a sombra, e já enevoa vossos olhos dourados.
Engalfinho-me em você, teso desejo, e vos mordo a nuca a dilaceradas dentadas.
É assim que me subjugas, me humilhas e me achacas por guardar dentro o aguilhão do sexo. Nem desconfias que quem capitula sou eu, baixo a fissura explícita de vos amar escandalosamente.


Do livro “Manual de Zoofilia”

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